4 de out. de 2010

Eduardo dá o troco em Jarbas com juros e correção


Vai levar algum tempo até que as oposições em Pernambuco se recuperem do atropelamento. Pilotado pelo governador Eduardo Campos (PSB), o trator da Frente Popular passou solenemente por cima dos adversários e, não satisfeito, voltou de marcha à ré para esmagar os que porventura ainda respirassem.

Tentei montar uma imagem na cabeça do leitor na intenção de revelar todo o significado da vitória de Eduardo. Uma vitória com um forte componente de vendeta, que o governador insiste, inutilmente, em negar. Foram mais de dez anos construindo, diuturnamente, a máquina que ontem moeu o que restava a oposição no Estado.

Não se trata de um "troco" apenas pela derrota imposta por Jarbas Vasconcelos a Miguel Arraes, em 1998. Isso seria pensar com imediatismo. Embora não declare, a vingança imposta ontem por Eduardo às oposições tem muito mais juros e correção. Incide sobre antigos episódios de uma turbulenta relação entre seu avô e o ex-aliado peemedebista.

Um primeiro conflito ocorreria no distante ano de 1979. Ao retornar do exílio, Miguel Arraes planejava retomar o mandato de governador que o regime militar lhe tirara em 1962. Achava que poderia ser o nome das oposições a enfrentar Roberto Magalhães (PDS) em 1982. Mas Jarbas - comandante do PMDB estadual - bancou a candidatura de Marcos Freire, articulada enquanto o ex-governador ainda estava na Argélia.

Dali em diante, o tratamento entre os dois aliados esfriou. Mas só se agravaria em 1990, quando Jarbas disputou o governo contra Joaquim Francisco, do PFL. Candidato a deputado federal, Arraes montou uma chapinha exclusiva do PSB com o PCdoB e pouco se empenhou na campanha do peemedebista, que acabou derrotado.

Dois anos depois, viria o troco. Favorito na disputa para prefeito do Recife, Jarbas recebeu de Arraes uma condição para apoiá-lo: queria o neto, Eduardo, na vice, numa aliança PMDB/PSB. Pedido recusado, o racha se consolidaria para sempre. Arraes e Jarbas pararam de militar juntos e deixaram até de se cumprimentar.

Em 1994, Jarbas se aliaria ao PFL, enquanto Arraes vencia a disputa ao governo do Estado. "Doutor Jarbas está no caminho da perdição", declarou o socialista, na época, em tom meio profético.

Ao final do seu mandato, porém, instado por aliados a disputar a reeleição - instrumento que condenava publicamente - Arraes levaria um revés de mais de um milhão de votos nas urnas, imposto pelo rival com o apoio do PFL, na aliança que ele, Arraes, tanto condenara. Essa mesma aliança levaria Jarbas à reeleição no primeiro turno em 2002, sem chances para a Frente Popular.

Embora em 2006 Eduardo Campos tenha conseguido uma vitória sofrida para o governo sobre Mendonça Filho (PFL), graças, inclusive, ao apoio do presidente Lula, somente ontem seu projeto de vingança se completaria.

A Jarbas, agora, restam mais quatro anos de Senado e a perspectiva de despontar no plano nacional como duro adversário de um eventual governo Dilma ou aliado dedicado em uma possível gestão Serra.

Às oposições em Pernambuco, resta um esforço supremo de recomposição, que precisa ser eficiente e rápido para render dividendos já em 2012. Mas que não será fácil, dadas as rivalidades e desentendimentos entre caciques dos partidos opositores.

A Eduardo Campos, resta, no mínimo, a obrigação de fazer um governo melhor que o primeiro, e daí tentar alçar um voo mais alto, rumo ao cenário nacional. Porque em Pernambuco, ao menos politicamente, ele já cumpriu tudo o que havia planejado.

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